quinta-feira, 25 de outubro de 2012


As relações precoces – Hospitalismo


O “Hospitalismo” de René Spitz


René Spitz, psiquiatra infantil com formação psicanalítica, desenvolveu um conjunto de pesquisas em crianças que, durante os primeiros doze meses de vida, permaneceram um período prolongado numa instituição hospitalar ou num orfanato, privadas da presença da mãe. Estudou as consequências e concluiu que os bebés apresentavam perturbações somáticas e psíquicas como resultado da ausência completa da mãe numa instituição em que os cuidados são administrados de forma anónima, sem que se estabeleçam laços afetivos. Do ponto de vista do cuidado físico, estavam asseguradas as condições fundamentais de higiene e de alimentação; do ponto de vista afetivo, constatou uma carência afetiva total, porque cada adulto tinha à sua guarda várias crianças.

Spitz designou por Hospitalismo o conjunto de perturbações vividas por crianças institucionalizadas e privadas de cuidados maternos: atraso no desenvolvimento corporal, dificuldades na habilidade manual e na adaptação ao meio ambiente, atraso na linguagem. Constatou que é menor a resistência às doenças e que, nos casos mais graves, pode ocorrer a apatia. Os efeitos do Hospitalismo, presentes nas crianças que foram abandonadas em orfanatos ou asilos, são duradouros e muitas vezes irreversíveis.

Com as investigações Spitz confirmou a necessidade de laços e de contatos afetivos entre o bebé e o adulto, especialmente entre a mãe e o filho; a sua ausência pode conduzir a perturbações emocionais, comportamentais e desenvolvimentais graves.

Recentemente, as suas conclusões foram confirmadas por estudos desenvolvidos nas crianças encontradas nos orfanatos romenos, sobrelotados, depois da queda de Ceausescu, na Roménia, em 1989. A maior parte das crianças com 2 e 3 anos não conseguia andar ou falar, manifestando um comportamento passivo sem manifestação de emoções.

 

quinta-feira, 3 de maio de 2012


O conceito geral de saúde


A psiquiatria apresenta-se como ciência médica que tem como principal objecto de estudo a doença psíquica. Neste sentido, importa referir as características e as limitações de tal objecto de estudo. Por conseguinte, pode-se afirmar que não é fácil definir o conceito de doença em psiquiatria.

No campo da psiquiatria pode-se afirmar que cerca de 10% da população geral pode apresentar traços característicos de electroencefalográficos de tipo disrítmico sem que muitos deles manifestem sintomatologia clínica actual ou alterações evidentes de comportamento. Significa isto que os conceitos gerais de normal e de patológico variam consoante o critério que se tem em vista.  Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito "saúde", mais do que ausência de doença, representa uma situação de completo bem-estar físico, psíquico e social. Inclui também a adequação do sujeito individual ao meio em que está inserido. Mais do que uma situação estática, resulta duma contínua intenção individual no sentido de gerir a afectividade, evitar atitudes e hábitos nocivos, e fazer vigiar regularmente certos parâmetros clínicos e analíticos. A OMS com esta definição veio complicar mais os problemas de definição de saúde. Com esta definição pode-se chegar a um outro sentido, em que a doença seria todo e qualquer estado que se afaste do completo bem-estar geral, ou seja, em que uma situação de completo bem estar físico, mental e social se encontra ausente.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Saúde e comportamento

Saúde Psicológica e patologia do comportamento

A compreensão de comportamentos patológicos pressupõe uma concepção de conduta sadia. Contudo, a distinção entre saúde e doença é, por vezes, muito confusa. Os especialistas interrogam-se acerca do significado de saúde psicológica ou mais precisamente de saúde mental.

Assim deparamos com duas concepções de saúde mental:

  • Negativa – a saúde psicológica  é uma situação da qual estão ausentes reacções patológicas
  • Positiva – a característica distintiva da pessoa saudável não é a de estar livre de respostas patológicas, mas a de que o seu comportamento, incluindo o modo de viver e de encarar a vida, é saudável e bom.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Modelo Preventivo em Saúde

A saúde mental preventiva corresponde a uma atitude de investigação e de intervenção que se define por quatro características principais:

 
  • Prevenção primária: (profilaxia) compreende a promoção da saúde, isto é, as condições gerais de higiene e toda a profilaxia da doença de que o exemplo clássico é a vacinação. O objectivo da prevenção primária é evitar o aparecimento da doença, diminuindo o risco de adoecer mentalmente.

  • Prevenção secundária: (diagnóstico e tratamento precoces) consiste essencialmente no diagnóstico e tratamento precoces e o seu objectivo é a prevenção de complicações ou agravamento de perturbações já diagnosticadas.

  • Prevenção terciária: (rápida inserção sócio-profissional com minimização dos efeitos da doença. A prevenção terciária consiste na reabilitação e reinserção social da pessoa.

  • Prevenção quaternária tem por objectivo, por um lado, evitar a patologia do doente e, por outro lado, o hospitalismo em hospitalizações prolongadas e crónicas.

Perspectivar a Saúde Mental em termos preventivos corresponde a ligá-la a:

·         Às equipas de saúde materna e infantil – Obstetrícia e Pediatria

·         Às equipas médico-cirúrgicas no caso do doente adulto e da 3ª idade

·         À comunidade – Saúde Mental Comunitária – através de uma articulação funcional com outras estruturas: família, escola, associações culturais, recreativas, desportivas, etc.

A Psiquiatria


A PSIQUIATRIA NA HISTÓRIA

Longa tem sido a trajectória da Psiquiatria e penosa a sorte do doente mental. Sucessivamente objecto de perseguição e segregação como acontecera com outras doenças como, por exemplo, a lepra, o doente mental adquiriu lentamente o direito de ser considerado doente e, como tal, de ser tratado. Inicialmente excluído da sociedadeé ao nível da sua reintegração social que se situa, posteriormente, um dos aspectos mais importantes  da atitude terapêutica.

Quatro grandes revoluções marcam a evolução histórica da Psiquiatria:
  1. No final do século XVIII, Pinel, em França, separa o doente mental dos presos de delito comum, dando assim ao doente mental o direito de ser tratado em vez de ser punido como até aí.
  2. No final do século XIX e princípios do século XX Freud chama atenção para as manifestações do inconsciente.
  3. Em 1950 introduzem-se os psicofármacos.
  4. 1960 marca a 3.ª grande revolução: a passagem da psiquiatria tradicionalmente curativa à psiquiatria preventiva, revolução que, aliás, não aconteceu apenas na psiquiatria mas em toda a medicina. À preocupação centrada sobre a doença e o seu tratamento opõe-se assim a preocupação com a saúde, isto é, o bem-estar físico, psicológico e social da pessoa tal como o define a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Esta evolução corresponde a uma dupla realidade:


  • Foi o tratamento do doente adulto que dominou a psiquiatria durante longos anos, até porque, em termos sócio-económicos, era o adulto, enquanto membro activo e produtivo da sociedade e como chefe de família, que preocupava mais os responsáveis dos países.

  • A evolução das ideias em que o centro do problema se desloca da doença para a saúde e em que a preocupação da prevenção passa a impregnar todo o pensamento médico.

O objecto de estudo e de intervenção desloca-se assim:

- da doença para a saúde
- da pessoa para o grupo e comunidade
- do tratamento para a prevenção
- do técnico para a equipa.


O médico Francês Philippe Pinel (1745-1826) nomeado responsável pelo sistema hospital parisiense. Pinel removeu as correntes dos doentes mentais.